quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Chega de Fiu-Fiu - comentário sobre a questão

O problema

Estava por acaso hoje fuçando à toa na internet quando me deparei com um artigo veiculado no site da revista época sobre cantadas e assédio e a posição das mulheres sobre isso.
Sempre achei interessante, sobre tudo na minha vida, fazer mais do que dizer minha opinião. Sempre gostei mais mesmo é de tentar pensar sobre o fato, incluindo uma tentativa de chegar à origem do mesmo. Digo tentativa porque é, obviamente, muito difícil chegar ao início de algo tão complexo baseado apenas na especulação. Mas, de qualquer forma, vamos em frente.
A campanha “Chega de Fiu-Fiu” mostra impressionantes números sobre as mulheres que já receberam cantadas consideradas ofensivas ou que já foram até assediadas de alguma forma no seu cotidiano. Uma grande e interessante questão levantada com a pesquisa é o porquê da existência de tantos homens que se acham no direito de fazer atrocidades com mulheres e achar isso certo.

As roupas

Acho que a justificativa mais dada é que o respeito está relacionado com a quantidade ou tamanho das roupas que a mulher veste. Isso no meu ver faz tanto sentido quanto só respeitar o seu pai quando ele não está usando aquele pijama feio e velho que ele insiste em manter no armário. Tanto sentido quanto cruzar a rua quando você vê alguém vestido todo de preto (leia-se fã de rock, mais provavelmente fã de metal). Tanto sentido quanto achar que alguém vestido todo de preto é fã de rock ou, mais provavelmente, de metal.
Todos nós sabemos no fundo que a roupa não diz sobre o ser humano, mesmo que não demonstremos isso. Terno e gravata é a roupa do político ladrão e ao mesmo tempo a roupa daquele pai que foi respeitoso, dedicado e honesto toda a sua vida e está na igreja, diante do altar, no casamento da sua filha. Em que isso se difere da comparação entre a mulher com o shortinho curto e a mulher com uma roupa que cobre todo o corpo?
A meu ver, nada.  Acho que o respeito que falta nos homens vem de um conjunto de fatores.

1.A família

Perdi a conta de quantas vezes eu já vi pais incentivarem seus filhos que namoram a não ter fidelidade, dizendo que eles têm que “aproveitar a vida” e que esse atributo deve existir no casamento e não antes disso. Não vejo muito a diferença entre isso e tratar a mulher como um objeto. Incentivar a infidelidade, para mim, é uma forma de incentivar o homem a não tratar a mulher com o devido respeito que ela merece como ser humano que é. Sempre lutei contra isso e sempre lutarei porque acho que namoro, mesmo quando jovem, é uma relação que prepara o ser humano para relações futuras. Pergunte ao casal que está casado há mais de 50 anos (se você achar algum) se os pais deles os incentivavam a “aproveitar a vida” da forma que foi dita. Creio que não.
Incentivar a não ter compromisso sério (ou seja, não namorar sério) durante a juventude é algo bem diferente.  Apesar disso também contribui para que o jovem pule de parceiro(a) em parceiro(a) com a chance de fazer isso sem se preocupar em tratar a pessoa com respeito.
A meu ver, podem formar-se ai homens que tratam a mulher como objeto de prazer.

2.Separando

Relacionado à família, mas também à sociedade como um todo, está a forma como homens e mulheres são separados. Quantas vezes eu e você, leitor, já vimos meninas ganhando bonecas (para que elas cuidem como filhos) ou presentes relacionados a cuidados com a casa, como miniaturas de cozinha, por exemplo? Enquanto isso meninos, frequentemente, ganham kits de construção, carrinhos, bonecos de luta, entre outros. Isso, pra mim, já ajuda a incutir na cabeça dos pequenos uma separação que chega ser até de superioridade, como se as mulheres devessem cuidar de casa e das crianças enquanto os homens fazem o serviço bruto e isso fizesse dos homens superiores.
Sou do tipo que enxerga que cada grande questão começa com um pequeno passo. Vejo que esse é um pequeno passo na caminhada para a cultura do homem sendo visto como superior e dominante.
Ainda se ouve coisas do tipo: “engenharia não é profissão de mulher!”. Essa e outras coisas semelhantes vêm pra mim da mesma separação dos brinquedos ali de cima e também da separação de “rosa = meninas” e “azul = meninos” e por ai vai.
É inevitável pensarmos que tudo que temos de bom ou ruim tem um mínimo de origem na família.

3.O que vêm da mídia

Finalmente chegamos às nossas fontes de informação e entretenimento. Pare para notar o quanto de sexo e violência há nos filmes, desenhos animados, programas de televisão, livros e música na atualidade. Infelizmente já virou clichê falar uma coisa tão séria como: “o sexo e a violência hoje estão banalizados”. Quão sério é isso? Estamos em contato tão grande com cenas desse tipo que já achamos normal. Imagino que sem um controle maior dos pais, essa banalização pode levar a futuros adultos que não valorizam a intimidade e a sexualidade próprias e do próximo e que achem até que as cantadas ofensivas e o assédio são algo comum.

Concluindo

Junte todos os fatores acima e pense sobre o produto dessa junção. O relato da pesquisa feita mostra a realidade da união desses e de outros fatores que eu possa não ter citado. O que está dito no texto acima visa buscar explicações para a origem desse comportamento bárbaro dos homens e não de justificá-lo como certo ou aceitável.
Infelizmente ainda há homens que tratam mulheres como lixo. E também há mulheres que se tratam como lixo, como a personagem principal de Cinquenta Tons de Cinza (pelo menos no primeiro volume da série), que infelizmente tem inspirado tanta gente por ai. Curiosidade: a autora dessa obra é uma mulher.
Creio que haja homens de respeito ao redor desse mundo (mesmo que sejam poucos) e que sê-lo é QUESTÃO DE QUERER. Eu, pessoalmente, sou um dos que querem e tentam todos os dias, sempre se questionando sobre o que pensam, o que falam e o que fazem.  Não quero e não acho que seja preciso falar sobre quão essenciais são as mulheres para todo e qualquer homem em todos os momentos da sua vida.
Tenho certeza que ignorantes são os que não percebem como a mulher e o homem são igualmente capazes, igualmente de valor e que, como seres humanos, querem e merecem respeito. Aliás, não importa o sexo, a cor, o credo, a origem ou a condição social todos querem e merecem ser respeitados. Eu sei que essa frase foi clichê, mas é como digo: se fosse assim tão pobre e obvia não precisaria ser dita.








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