Acabei de assistir o programa “A
Liga” que, no episódio de hoje, visitou hospitais psiquiátricos e conversou com
pacientes e terapeutas. Dois dos apresentadores passaram 24 horas num hospital, acompanhando e participando da rotina, conversando (com
pacientes e profissionais) sobre o que era estar ali, como eles chegaram e como
eles se sentiam.
Chocante, contundente, triste,
revoltante, mas com uma pitada de esperança. É só assim que posso descrever o
que vi.
De certa forma, o que mais me impressionou
não foi a rotina deles e o quão trabalhoso é cuidar daquelas pessoas. O que
mais me impressionou foi perceber o quão lúcidas aquelas pessoas estavam sobre
a sua condição e sobre a posição do mundo externo com relação a eles. Vários
demonstraram e disseram que foram discriminados, rejeitados e até maltratados
pelos familiares e amigos. Vários estavam naquela situação havia décadas.
Gostei muito da abordagem do programa
de mostrar tanto o ponto de vista do terapeuta quanto do paciente sobre o
local, sobre a história de cada um, sobre os problemas, tratamentos e as
reações individuais.
Vida com dignidade. É isso que
eles estão ali alcançando a cada dia, dando, para isso, passos pequenos e
constantes. Foi possível ver pessoas que sofrem, mas que seguem lutando para
melhorar e alcançar a tão sonhada alta. Poder um dia viver fora dali, fora de
uma vida que nenhum deles adotou por prazer e vontade própria, fora de uma vida
que não deixa de parecer uma prisão, como disse uma paciente.
Igualmente impressionante foi ver
como a presença externa no ambiente deles trouxe excitação. Os apresentadores,
que ficaram 24 horas com os pacientes, disseram ao final ter aprendido sobre afeto,
amizade e criatividade. Eu poderia acrescentar também humanidade. Trazer um
estimulo que os faça sentir mais humanos, queridos, importantes, únicos, vivos.
Pergunto-me, como o programa
propôs, qual é a fronteira entre a sanidade e a loucura. Pergunto-me se somos
nós os loucos ou eles. E digo que, essas perguntas vêm do fato de que, ao tratarmos
essas pessoas com desprezo e preconceito estamos piorando a vida delas. Estamos
prejudicando o árduo processo pelo qual passaram para a melhora.
Se somos todos humanos, cidadãos,
livres e de igual direito, porque não darmos a essas pessoas o devido
tratamento? O hospital mostrado na reportagem provavelmente é um bom centro de
referência no assunto. Imagine o que deve existir de pior por esse nosso enorme
país? Imagine pacientes à mercê de funcionários despreparados, em locais
insalubres que não fornecem nada que seja de auxilio à melhora?
“A humanidade é desumana”.........acho
que já vimos algo desse tipo por ai, não é mesmo? Vejo que não há mentira
alguma nessa frase. Clichês algumas vezes dizem o que insistimos em não ouvir.
Acho que é esse o caso.
Com um pouco de atenção,
paciência e carinho vários pacientes se mostraram alegres e quem sabe o que
essa alegria vai mudar em seu tratamento? Quem sabe talvez mais um passo em
direção ao sonho da vida exterior? Ver humanidade em meio àqueles que estão à
margem da sociedade devia ser motivo de vergonha para todos nós.
Explicando os sentimentos do
início só posso dizer que me sinto triste porque essas pessoas tem que passar
por tanto sofrimento, revolta por imaginar como são deixadas de lado por todos
nós, mas esperança ao ver que podemos mudar isso com pouco.
Minha forma de ver essas pessoas
nunca mais vai ser a mesma. Admiro muito mais agora os profissionais competentes que
trabalham nessa área.
Como concluir sobre algo tão
contundente e chocante? A mistura de sentimentos que me tira as palavras e me
trás lagrimas, só me permite dizer que loucos devemos ser nós que abandonamos
quem mais precisa às margens da vida.
Testando os comentários. Funcionando perfeitamente!
ResponderExcluirPerfeito o seu texto!!!
ExcluirO assunto é mesmo chocante...e eu achei que não conseguiria assistir ao programa, mas a produção foi perfeita.
Vimos que o problema é muito maior ainda dentro da nossa cabeça...somos mesmo desumanos. Mas podemos fazer a diferença, com muito pouco.