terça-feira, 6 de novembro de 2012

Loucura



Acabei de assistir o programa “A Liga” que, no episódio de hoje, visitou hospitais psiquiátricos e conversou com pacientes e terapeutas. Dois dos apresentadores passaram 24 horas num hospital, acompanhando e participando da rotina, conversando (com pacientes e profissionais) sobre o que era estar ali, como eles chegaram e como eles se sentiam.

Chocante, contundente, triste, revoltante, mas com uma pitada de esperança. É só assim que posso descrever o que vi.

De certa forma, o que mais me impressionou não foi a rotina deles e o quão trabalhoso é cuidar daquelas pessoas. O que mais me impressionou foi perceber o quão lúcidas aquelas pessoas estavam sobre a sua condição e sobre a posição do mundo externo com relação a eles. Vários demonstraram e disseram que foram discriminados, rejeitados e até maltratados pelos familiares e amigos. Vários estavam naquela situação havia décadas.

Gostei muito da abordagem do programa de mostrar tanto o ponto de vista do terapeuta quanto do paciente sobre o local, sobre a história de cada um, sobre os problemas, tratamentos e as reações individuais.

Vida com dignidade. É isso que eles estão ali alcançando a cada dia, dando, para isso, passos pequenos e constantes. Foi possível ver pessoas que sofrem, mas que seguem lutando para melhorar e alcançar a tão sonhada alta. Poder um dia viver fora dali, fora de uma vida que nenhum deles adotou por prazer e vontade própria, fora de uma vida que não deixa de parecer uma prisão, como disse uma paciente.

Igualmente impressionante foi ver como a presença externa no ambiente deles trouxe excitação. Os apresentadores, que ficaram 24 horas com os pacientes, disseram ao final ter aprendido sobre afeto, amizade e criatividade. Eu poderia acrescentar também humanidade. Trazer um estimulo que os faça sentir mais humanos, queridos, importantes, únicos, vivos.

Pergunto-me, como o programa propôs, qual é a fronteira entre a sanidade e a loucura. Pergunto-me se somos nós os loucos ou eles. E digo que, essas perguntas vêm do fato de que, ao tratarmos essas pessoas com desprezo e preconceito estamos piorando a vida delas. Estamos prejudicando o árduo processo pelo qual passaram para a melhora.

Se somos todos humanos, cidadãos, livres e de igual direito, porque não darmos a essas pessoas o devido tratamento? O hospital mostrado na reportagem provavelmente é um bom centro de referência no assunto. Imagine o que deve existir de pior por esse nosso enorme país? Imagine pacientes à mercê de funcionários despreparados, em locais insalubres que não fornecem nada que seja de auxilio à melhora?

“A humanidade é desumana”.........acho que já vimos algo desse tipo por ai, não é mesmo? Vejo que não há mentira alguma nessa frase. Clichês algumas vezes dizem o que insistimos em não ouvir. Acho que é esse o caso.

Com um pouco de atenção, paciência e carinho vários pacientes se mostraram alegres e quem sabe o que essa alegria vai mudar em seu tratamento? Quem sabe talvez mais um passo em direção ao sonho da vida exterior? Ver humanidade em meio àqueles que estão à margem da sociedade devia ser motivo de vergonha para todos nós.

Explicando os sentimentos do início só posso dizer que me sinto triste porque essas pessoas tem que passar por tanto sofrimento, revolta por imaginar como são deixadas de lado por todos nós, mas esperança ao ver que podemos mudar isso com pouco.

Minha forma de ver essas pessoas nunca mais vai ser a mesma. Admiro muito mais agora os profissionais competentes que trabalham nessa área. 

Como concluir sobre algo tão contundente e chocante? A mistura de sentimentos que me tira as palavras e me trás lagrimas, só me permite dizer que loucos devemos ser nós que abandonamos quem mais precisa às margens da vida.


2 comentários:

  1. Testando os comentários. Funcionando perfeitamente!

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    1. Perfeito o seu texto!!!
      O assunto é mesmo chocante...e eu achei que não conseguiria assistir ao programa, mas a produção foi perfeita.
      Vimos que o problema é muito maior ainda dentro da nossa cabeça...somos mesmo desumanos. Mas podemos fazer a diferença, com muito pouco.

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